Arthur W. Pink
Não poderemos ter correto conceito de Deus, se não pensarmos nEle como onipotente, igualmente como onisciente. Quem não pode fazer o que quer e não pode realizar o que lhe agrada, não poder ser Deus. Como Deus tem uma vontade para decidir o que julga bom, assim tem poder para executar a Sua vontade. "O poder de Deus é aquela capacidade e força pela qual Ele pode realizar tudo que Lhe agrade, tudo que a Sua sabedoria dirija, tudo que a infinita pureza da Sua vontade resolva. "... como a santidade é a beleza de todos os atributos de Deus, assim o poder é aquilo que dá vida e movimento a todas as perfeições da natureza divina. Como seriam vãos os conselhos eternos, se o poder não interviesse para executá-los! Sem o poder, a Sua misericórdia seria apenas uma débil piedade, as Suas promessas um som vazio, as Suas ameaças mero espantalho. O poder de Deus é como Ele mesmo: infinito, eterno, incompreensível; não pode ser refreado, nem restringido, nem frustrado pela criatura"(S.Charnock).
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"Uma coisa disse Deus, duas
vezes a ouvi: que o poder pertence a Deus" (Sl.62:11). "Uma coisa
disse Deus", ou segundo a versão autorizada, KJ, 1611, "Uma vez falou
Deus": nada mais é necessário! Passarão os céus e a terra, porém a Sua
palavra permanece para sempre. "Uma vez falou Deus": como Lhe fica
bem a Sua majestade divina! Nós, pobres mortais, podemos falar muitas vezes e,
contudo, sem sermos ouvidos, Ele fala somente uma vez, e o trovão do Seus poder
é ouvido em mil montanhas. "E o Senhor trovejou nos céus, o Altíssimo
levantou a sua voz; e havia saraiva e brasas de fogo. Despediu as suas setas, e
os espalhou: multiplicou raios, e os perturbou. Então foram vistas as
profundezas das águas, e foram descobertos os fundamentos do mundo; pela tua
repreensão, Senhor, ao soprar das tuas narinas" (Sl.18:13-15).
"Uma vez falou Deus":
vede a Sua imutável autoridade, "Pois quem no céu se pode igualar ao
Senhor? Quem é semelhante ao Senhor entre os filhos dos poderosos?"
(Sl.89:6). "E todos os moradores da terra são reputados em nada; e segundo
a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra: não há
quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: que fazes?" (Dn.4:35). Esta
realidade foi amplamente descortinada quando Deus Se encarnou e tabernaculou
entre os homens. Ao leproso ele disse: "... sê limpo. E logo ficou
purificado da lepra" (Mt.8:3). A um que jazia no túmulo já fazia quatro
dias, ele bradou: "... Lázaro, sai para fora. E o defunto
saiu..."(Jo.11:43-44). Os ventos tempestuosos e as ondas bravias se
aquietaram a uma só palavra Dele. Uma legião de demônios não pôde resistir à
Sua ordem repassada de autoridade.
"O poder pertence
a Deus", e somente a Ele. Nem uma só criatura, no universo inteiro, tem
sequer um átomo de poder, salvo o que é delegado por Deus. Mas o poder de Deus
não é adquirido, nem depende do reconhecimento de nenhuma outra autoridade.
Pertence a Ele inerentemente. "O poder de Deus é como Ele mesmo,
auto-existente, auto-sustentado. O mais poderoso dos homens não pode
acrescentar sequer uma sombra de poder ao Onipotente. Ele não se firma sobre
nenhum trono reforçado; nem se apoia em nenhum braço ajudador. Sua corte não é
mantida por Seus cortesãos, nem toma Ele emprestado das Suas criaturas o Seu
esplendor. Ele próprio é a grande fonte central e o originador de toda
energia" (C.H.Spurgeon). Toda a criação dá testemunho, não só do grande
poder de Deus, mas também da Sua inteira independência de todas as coisas
criadas. Ouça o Seu próprio desafio: "Onde estavas tu, quando eu fundava a
terra? Faze-mo saber, se tens inteligência. Quem lhe pôs as medida, se tu o
sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? Sobre que estão fundadas as suas
bases, ou quem assentou a sua pedra de esquina? (Jó 38:4-6). Quão completamente
o orgulho do homem é lançado ao pó!
"Poder é usado também como um
nome de Deus, "... o Filho do homem assentado à direita do poder de Deus,
e vindo sobre as nuvens do céu". (Mc.14:62), isto ;e, à destra de Deus.
Deus e poder são tão inseparáveis que são recíprocos. Como a Sua essência é
imensa, não pode ser confinada a um lugar; como é eterna, não pode ser medida
no tempo; assim a Sua essência é todo-poderosa, não sofrendo limite para a
ação"(S.Charnock). "Eis que isto não apenas as orlas dos seus
caminhos; e quão pouco é o que temos ouvido dele! Quem pois entenderia o trovão
do seu poder? "(Jó 26:14). Quem é capaz de contar todos os monumento do Seu
poder? Mesmo aquilo que é demonstrado do Seu poder na criação visível está
inteiramente fora da nossa capacidade de compreensão, e menos ainda podemos
conceber da onipotência propriamente dita. Há infinitamente mais poder abrigado
na natureza de Deus do que o expresso em todas as Suas obras.
"Partes dos Seus
caminhos" contemplamos na criação, na providência, na redenção, mas apenas
uma "pequena parte" do Seu poder se vê nessas obras. Isto nos é
exposto extraordinariamente em Habacuque 3:4 "...e ali estava o esconderijo
da sua força". Dificilmente se pode imaginas algo mais grandiloqüente do
que as figuras deste capítulo todo, no entanto nele nada supera a nobreza desta
declaração. O profeta (numa visão) viu o poderoso Deus espalhando os outeiros e
abatendo os montes, o que se julgaria espantosa demonstração de força. Nada
disso, diz o nosso versículo; isso é mais o ocultamento do que a exibição do
seu poder. Que se quer dizer? Isto: é tão inconcebível, tão imenso, tão
incontrolável o poder da Deidade, que as terríveis convulsões que Ele opera na
natureza escondem mais do revelam do Seu poder infinito!
É coisa bela juntar as seguintes
passagens: "O que só estende os céus, e anda sobre os altos do mar" (Jó
9:8), que expressa o indomável pode de Deus. "... Ele passeia pelo circuito
dos céus"(Jó 22:14), que fala da imensidade da sua presença. "...anda
sobre as asas do vento" (Sl.104:3), que expressa a espantosa rapidez das
Suas operações. Esta ;ultima expressão é deveras notável. Não é que "Ele
voa" ou "Corre", mas que Ele "anda", e isso, nas
"asas do vento"- sobre o mais impetuoso dos elementos, impelido com o
máximo furor, e varrendo tudo com quase inconcebível velocidade, todavia sob os
Seus pés, debaixo do Seu controle perfeito!
Consideremos agora o poder de Deus na
criação. "Teus são os céus, e tua é a terra; o mundo e a sua
plenitude tu os fundaste. O norte e o sul to os criaste..."(Sl.89:11-12).
Antes de poder trabalhar, o homem precisa ter ferramentas e material , mas Deus
começou com nada, e só por Sua palavra fez do nada todas as coisas. O intelecto
não pode captar isto. Deus "... falou, e tudo se fez, mandou, e logo tudo
apareceu"(Sl.33:9). A matéria primeva ouviu a Sua voz. "Disse Deus:
Haja... e assim foi"(Gn.1). Bem podemos exclamar: "Tu tens um braço
poderoso; forte é a tua mão, e elevada a tua destra"(Sl.89:13).
Quem, que olha para cima, para o
céu da meia-noite e, com os olhos da razão, contempla as suas maravilhas em
movimento; quem pode abster-se de indagar: do que foram feitos estes poderosos
astros? É espantoso dizê-lo, foram produzidos sem material nenhum. Brotaram do
vazio. A majestosa estrutura da natureza universal emergiu do nada. Que
instrumentos foram usados pela supremo Arquiteto para modelar as partes com tão
refinada elegância e aplicar tão belo polimento ao todo? Como terá sido feita a
junção de tudo numa estrutura primorosamente proporcionada e com tão magnífico
acabamento? Um puro e simples fiat realizou tudo. Haja estas coisas, disse
Deus. Nada acrescentou; e logo o edifício maravilhoso se ergueu, adornado com
todo tipo de beleza, pondo à mostra inumeráveis perfeições, e proclamando em
meio a extasiados serafins o louvor do Seu grande Criador. "Pela palavra
do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo espírito da sua
boca"(Sl.33:6)"(James Hervey, 1789).
Considere o poder de Deus na
preservação. Nenhuma criatura tem poder para preservar-se a si mesma.
"Porventura sobe o junco sem lodo? Ou cresce a espadana sem
água?"(Jó8:11). Tanto o homem como o animal pereceriam, se não houvesse
erva para alimento, e a erva murcharia e morreria, se o solo não fosse
refrescado com chuvas frutíferas. Portanto, Deus é denominado o Preservador dos
"homens e os animais"(Sl.36:6). Ele sustenta "... todas as
coisas, pela palavra do seu poder..."(Hb.1:3). Que maravilha de poder
divino é a vida pré-natal de todo ser humano! Que uma criança possa sequer
viver, e por tantos meses, num alojamento apertado e estranho assim, é
inexplicável sem o poder de Deus. Verdadeiramente, Ele "... sustenta com
vida a nossa alma..."(Sl.66:9).
A preservação da terra, guardando-a
da violência dos mares é outro claro exemplo do poder de Deus. Como é que
aqueles elementos em fúria ficaram encerrados dentro daqueles limites em que
primeiro se alojaram, permanecendo em suas baías e canais sem inundar a terra e
sem fazer em pedaços a parte baixa da criação? A condição natural da água é
ficar acima da terra por ser mais leve, e imediatamente abaixo do ar, por ser
mais pesada. Quem põe restrições à qualidade natural da água? O homem
certamente que não, e não tem poderes para tanto. É unicamente o fiat do
Criador da água que a refreia. "E disse: Até aqui virás, e não mais
adiante, e aqui se quebrarão as tuas ondas empoladas"(Jó38:11). Que
altaneiro monumento ao poder de Deus é a preservação do mundo!
Considere o poder de Deus no
governo. Tome-se a restrição que Ele impõe à ruindade de satanás.
"... o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão,
buscando a quem possa tragar"(IPe.5:8). Satanás está cheio de ódio a Deus,
e de diabólica inimizade contra os homens, particularmente contra os santos.
Aquele que invejou a Adão no paraíso, não quer que sintamos o prazer de
usufruirmos nenhuma das bênçãos de Deus. Se ele pudesse fazer o que deseja,
trataria todos os homens como tratou Jó: enviaria fogo do céu sobre os frutos
da terra, destruindo o gado, faria vendavais derribarem nossas casas, e
cobriria de chagas os nossos corpos. Mas, embora mal percebido pelos homens,
Deus refreia em grande media, impedindo-o de levar a cabo os seus maus desígnios,
e lhe impõe limites destro de Suas ordenações.
Assim também Deus restringe a
corrupção natural dos homens. Ele suporta suficientes erupções do pecado para
mostrar que terríveis estragos têm sido causados pela apostasia do homem, que
rompeu com o seu Criados, mas quem pode conceber a que medonho extremo os
homens iriam se Deus retirasse a Sua mão repressora? A boca dos ímpios
"... está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para
derramar sangue"(Rm.3:14-15). Esta é a natureza de cada um dos descendentes
de Adão. Então, que desenfreada licenciosidade e obstinada loucura triunfariam
no mundo, se o poder de Deus não se interpusesse para fechar as comportas do
mal! Ver Salmos 93:3-4.
Considere o poder de Deus no
juízo. Quando ele fere, ninguém Lhe pode resistir: ver Ezequiel 22:14.
Quão terrivelmente isso foi exemplificado no Dilúvio! Deus abriu as janelas do
céu e rompeu as grandes fontes do abismo, e (excetuando-se os que estavam na
arca) a raça humana inteira, impotente diante do furor da sua iram foi tragada.
Uma chuva de fogo e enxofre caiu do céu, e as cidades da planície foram
exterminadas. O faraó e todos os seus exércitos nada puderam, quando Deus
soprou sobre ele no Mar Vermelho. Que palavra terrificante, a de Romanos 9:22:
"E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu
poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a
perdição". Deus manifestará o Seu tremendo poder sobre os reprovados, não
apenas encarcerando-os na Geena, mas preservando sobrenaturalmente os seus
corpos como também as suas almas em meio às chamas eternas do Lago de Fogo.
Bem que deveriam tremer
todos, diante de um Deus tal! Tratar desconsideradamente Aquele que pode
esmagar-nos mais facilmente do nós a uma traça, é suicídio. Desafiar
abertamente Aquele que está revestido de onipotência, que pode rasgar-nos em
pedaços ou lançar-nos no inferno na hora que quiser, é o cúmulo da insanidade.
Para reduzi-lo ao seu plano mínimo, é simplesmente parte da sabedoria dar
ouvidos à sua ordem: "Beijai o Filho, para que se não ire, e pereçais no
caminho, quando em breve se inflamar a sua ira..."(Sl.2:12).
Bem que a alma iluminada deve adorar a um
Deus tal! As estupendas e infinitas perfeições de um Ser como Deus requer
fervoroso culto. Se homens de poder e renome reclamam a admiração do mundo,
quanto mais deve o poder do Onipotente encher-nos de assombro e mover-nos a
prestar-lhe homenagem. "Ó Senhor, quem é como tu entre os deuses? Quem é
como tu glorificado em santidade, terrível em louvores, obrando
maravilhas?"(Ex.15:11).
Bem que o santo pode confiar num
Deus tal! Ele é digno de implícita confiança. Nada Lhe é demasiado difícil. Se
Deus fosse limitado em poder e força, aí sim, poderíamos ficar desesperados.
Mas vendo que Ele Se reveste de onipotência, nenhuma oração é tão difícil que
Ele não possa responder, nenhuma necessidade é tão grande que Ele não possa
suprir, nenhuma cólera é tão forte que Ele não posse subjugar, nenhuma tentação
é tão poderosa que ele não nos possa livrar dela, nenhuma miséria é tão
profunda que Ele não possa aliviar. "... o Senhor é a força da minha vida;
de quem me recearei?(Sl.27:1). "Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo
muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder
que em nós opera, a esse glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as
gerações, para todo o sempre. Amém"(Ef.3:20-21).
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