PREGAÇÃO: GUIA PARA INICIANTES
1.
O que é a pregação?
Talvez seja mais
fácil dizer o que a pregação não é do que o que ela é. Não é um
compartilhar de alguns pensamentos de ouro sobre um texto bíblico. Pregar
não é um estudo bíblico. Não é uma palestra. Pregação não é um show
de comédia. O que é então? De uma maneira bem simples,
apregação é a proclamação da palavra de Deus por homens para os outros seres
humanos. Portanto, a pregação tem quatro componentes principais: O
Homem devidamente dotado e chamado. A Mensagem, a palavra de
Deus. O Meio, a proclamação falada. A Motivação: para
beneficiar outros seres humanos (Colossenses1:28). Mas talvez a minha
definição seja um pouco prosaica. De acordo com D. Martyn Lloyd-Jones,
pregação é a “teologia em chamas”.
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2.
O kit de iniciante de um pregador
1)
Oração
Um homem não deve
aventurar-se a falar por Deus a menos que primeiro tenha falado com Deus (Atos
6:4).
2)
Uma boa tradução da Bíblia
A pregação envolve
a explicação precisa das Escrituras. Uma paráfrase como a NTLH ou A
Mensagem não irão ajudar. Use uma tradução adequada e confiável, tais
como: ACF, ARA, ARC, Almeida Século XXI, NVI, KJA. Os sites BibliaOnline.com.br
e BibliaOnline.net.br
são totalmente pesquisáveis e dão acesso a uma ampla gama de traduções.
3)
Comentários Bíblicos
C. H. Spurgeon
sobre a utilização de comentários,
“Parece estranho,
que certos homens, que falam muito do que o Espírito Santo lhes revela, pensem
tão pouco sobre o que ele revelou para outros… Foi a moda nos últimos anos
falar contra o uso de comentários… Uma respeitável familiarização com as opiniões
dos gigantes do passado poderia ter poupado muito um pensador errático de
interpretações selvagens e inferências ultrajantes.”
Velhos mestres
como João Calvino e Matthew Henry estão disponíveis gratuitamente on-line [em
inglês - em português estão disponíveis para compra na Editora Fiel e na CPAD,
respectivamente]. Volumes da série Cultura Bíblia – Introdução e
Comentário (Edições Vida Nova – Antigo
Testamento e Novo
Testamento) são geralmente dignos de consulta. [Outro bom
comentário seria o Comentário
Bíblico Vida Nova. Online você pode encontrar alguns comentários
pontuais no monergismo.net.br]
O pacote ‘Logos Bible
Software‘ vem completo com uma série de comentários e tem
um recurso útil de tradução da Bíblia interlinear. [Em português algo perto
disto seria a Biblioteca Digital da Bíblia,
disponível para o Logos também.]
4)
Teologia Bíblica
A teologia bíblica
é o estudo da revelação progressiva, incutindo uma consciência do enredo básico
da Bíblia, da criação à nova criação. Ela também tenta traçar o
desenvolvimento e principais temas bíblicos, como a vinda da “semente”
prometida, aliança, herança, a pessoa e a obra do Messias, etc. Esta disciplina
irá ajudar o pregador a entender onde seu texto está no fluxo
histórico-redentor da revelação bíblica.
3.
Do texto ao sermão
1) Decidir qual é
o seu texto
Ore por orientação
do Senhor. Reflita sobre o impulso básico de seu sermão. Será evangelístico,
que visa apresentar o evangelho aos não convertidos, ou uma mensagem que é
primariamente para o povo de Deus? O que a congregação precisa ouvir?
Encorajamento, desafio ou admoestação?
Em sua primeira
pregação, se atenha às passagens que você conhece muito bem, em vez de tentar
encarar alguma coisa em Ezequiel ou Apocalipse. Aprenda a andar antes de
correr.
2) Discernir o
significado do seu texto
Faça perguntas ao
seu texto:
- Qual é seu contexto na passagem?
- Qual é a forma literária do texto? É poesia, uma canção, prosa histórica, uma parábola, um Evangelho ou uma epístola?
- Qual é o lugar do texto no enredo da Bíblia?
- Qual doutrina está sendo ensinada pelo texto? O que ele diz sobre Deus, a salvação, a vida cristã ou das últimas coisas? Como o que está sendo ensinado no texto refere-se ao ensino da Bíblia como um todo?
- Qual é a aplicação prática do seu texto?
- Como cada sermão deve ter um ponto principal, qual é o tema principal da passagem?
3) Desenvolver uma
clara estrutura de sermão.
Isso fará com que
sua mensagem seja memorável e fácil de seguir. A ordem dos pontos do sermão
deve ser lógica e progressiva, dando à mensagem uma sensação de impulso.
Experimente e siga as divisões naturais do seu texto. Por exemplo, Gênesis 22
pode ser dividido como se segue:
I. O Senhor prova
Abraão (22:1-6)
II. O Senhor provê para Abraão (22:7-14)
III. O Senhor promete bênçãos para Abraão (22:15-24)
II. O Senhor provê para Abraão (22:7-14)
III. O Senhor promete bênçãos para Abraão (22:15-24)
Aliteração é boa
quando acontece naturalmente, mas não é absolutamente necessária.
4) Use ilustrações
úteis
Ilustrações ajudam
as pessoas a entender o que está sendo dito. Elas devem iluminar a verdade ao
invés de chamar a atenção para si mesmas. Narrativas bíblicas são praticamente
autoilustrativas. Abraão é o exemplo-chave de um homem cuja fé está sendo
provada em Gênesis 22. Mas incluir outros casos de pessoas cuja fé foi provada
e aprovada, vai ajudar a chegar no ponto em questão.
5) Pregar a Cristo
a partir de todas as Escrituras
Isto é
especialmente importante quando se estiver pregando a partir do Antigo
Testamento. Veja a prática do próprio Jesus (Lucas 24:44-49). Gênesis 22 é
acerca de Isaque, a prometida “semente” sacrificada e ressurreta. (Gênesis
3:15, 21:12, Gálatas 3:16, Hebreus 11:17-19). Observe a maneira como Paulo ecoa
Gênesis 22:16 em Romanos 8:32, que é sobre o Senhor, que provê ao seu povo,
outro tema em Gênesis 22.
6) Aplicar
profundamente a sua mensagem
O propósito da
pregação é capacitar o povo de Deus a desempenhar os seus papéis no teatro da
redenção. A aplicação deve ser enraizada no Evangelho e determinada pelo texto
no qual você está pregando. Se o texto é uma promessa, a aplicação é: “creia”;
se um mandamento: “obedeça-o”; se uma admoestação: “acate-a”. Aplique a
mensagem de forma adequada a diferentes tipos de pessoas. Inste com os
incrédulos para que se arrependam e creiam no evangelho. Conforte e encoraje os
abatidos. Desafie os espiritualmente preguiçosos. Explique os caminhos de Deus
para o desorientado. Aplique a mensagem por todo o caminho, e não apenas no
final.
4. Do sermão à pregação
O
sermão não é um trabalho de literatura. Não é projetado para ser lido palavra
por palavra, mas para possibilitar que você analise e desenvolva sua mensagem.
Um sermão escrito irá formar a base da pregação, mas a pregação é mais do que
um sermão falado em voz alta. O sermão irá fornecer uma estrutura básica, mas o
pregador não deve se limitar a ele. Deve haver um elemento de imprevisibilidade
na pregação. O pregador precisará aprender a improvisar dentro da estrutura
básica e o fluxo do sermão enquanto interage com a congregação.
Se
estiver usando anotações, não enterre sua cabeça nelas do início ao fim.
Mantenha contato visual com as pessoas para que possa realmente se comunicar
com elas. Se não estiver usando anotações, não seja tentado a economizar a
preparação e deixar tudo para o impulso do momento. Pense claramente. Ore
fervorosamente. Deixe-se ir.
5. O que evitar
Não
experimente e embale coisa demais. Você não tem que despejar todos os
resultados de sua preparação nas pessoas. Seja seletivo. Se atenha ao ponto
principal.
Não
pregue acima daquilo que as pessoas conseguem entender. Lembre-se de que seu
trabalho é tornar simples o que é complicado, não o contrário. Explique
palavras grandes e conceitos pouco familiares.
Não
pregue por muito tempo. Diga o suficiente. É o que se espera.
6. Preparando-nos para pregar
Nossa
tarefa é possibilitar que o povo de Deus entenda e sinta a verdade das
Escrituras para que possa praticá-la. Para este fim o pregador deve orar,
pensar e sentir-se dentro do texto, para que a pregação se torne um vivo
desempenho da mensagem. Isso não significa que o pregador “finge” seu sermão.
Mas nós devemos refletivamente aplicar o sermão a nós mesmos antes de pregá-lo
a outros (1Tim 4:16). A pregação deveria ser uma viva representação do teatro
da redenção, onde a Palavra de Deus cristocêntrica é proclamada a seu povo no
poder do Espírito.
7. O Espírito Santo e a pregação
A
Bíblia enfatiza a importância do trabalho do Espírito em relação à pregação.
Paulo testifica: “nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra,
mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção…” (1
Tessalonicenses 1:5, também 1 Coríntios 2:1-5).
Capacitado
pelo Espírito no Pentecoste, Pedro pregou e 3.000 pessoas foram convertidas,
batizadas e adicionadas à igreja. O Pentecoste inaugurou uma nova era do
Espírito. Como tal, ele foi um evento irreproduzível. Mas ainda havia a
necessidade de mais suplementos para capacitar a pregação do evangelho (veja
Atos 4:8, 31).
O
Espírito Santo dá aos pregadores a clareza de pensamento, a intrepidez oral e
uma autorizada enviada dos céus. A igreja de Jerusalém orou: “Agora, Senhor…
concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a tua palavra” (Atos
4:29). Suas orações foram atendidas — “todos ficaram cheios do Espírito Santo
e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus” (Atos 4:31).
A
presença da capacitação do Espírito permite que os pregadores proclamem o
Senhor Jesus com intrepidez, liberdade e efetividade que transforma vidas. Sua
presença torna a pregação um evento onde o Deus do evangelho é encontrado em
toda a plenitude de sua graça e poder. Isso é o que torna a pregação “teologia
pegando fogo”. Tanto os pregadores quanto o povo devem buscar a Deus para isso
e não se contentarem com nada menos.
*
De uma palestra dada em uma Oficina de Pregadores, na Zion Baptist Church,
Trowbridge.
Por
Guy Davies. exiledpreacher.blogspot.com
Tradução
e Adaptação: voltemosaoevangelho.com
Permissões: Você está autorizado e incentivado a
reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que adicione
as informações supracitadas, não altere o conteúdo original e não o utilize
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