Quando Deus é glorificado -
Jonathan Edwards
O fato de
o fim supremo da bondade ou justiça moral ser cumprido quando Deus é
glorificado encontra-se pressuposto na objeção que o apóstolo faz ou que
imagina que alguns farão. Romanos 3.7:
"E, se por causa da minha mentira,
fica em relevo a verdade de Deus para a sua glória, por que sou eu ainda
condenado como pecador?", ou seja, uma vez que o grande fim da justiça
é cumprido pelo meu pecado, quando Deus é glorificado, por que o meu pecado é
condenado e castigado? E por que a minha perversidade não é considerada
virtude?
ENTRE E VEJA...
As
Escrituras também falam da glória de Deus como aquilo que constitui o valor e o fim de
determinadas graças, como é o caso da fé (Romanos
4.20: "Não duvidou, por
incredulidade, da promessa de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a
Deus"). Filipenses 2.11:
"E toda língua confesse que Jesus
Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai"); do arrependimento (Josué 7.19: "Dá glória ao SENHOR, Deus
de Israel, e a ele rende louvores; e declara-me, agora, o que fizeste; não mo
ocultes"); da caridade (2
Coríntios 8.19: "no desempenho
desta graça ministrada por nós, para a glória do próprio Senhor e para mostrar
a nossa boa vontade"); das ações de graça e louvor (Lucas 17.18: "Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória a Deus,
senão este estrangeiro?"; Salmo
50.23: "O que me oferece
sacrifício de ações de graças, esse me glorificará; e ao que prepara o seu
caminho, dar-lhe-ei que veja a salvação de Deus"). No tocante à última
passagem, pode-se observar que Deus parece estar se referindo desse modo às
atividades religiosas de seu povo, indicando que o fim da religião como um todo
é glorificar a Deus. O povo supunha estar fazendo isso da melhor maneira
possível ao oferecer um grande número de sacrifícios, mas Deus corrige esse
erro e informa a ele que o fim maravilhoso da religião não é cumprido desse
modo, mas sim na oferta dos sacrifícios mais espirituais do louvor e da santa
conversão [estilo de vida].
Por fim,
convém observar em particular as palavras do apóstolo em 1 Coríntios 6.19,20: "Acaso
não sabeis... que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço.
Agora, pois, glorifícai a Deus no vosso corpo". Aqui, a glorificação
de Deus não é apenas aquilo que compreende, em síntese, o fim da religião e o
de Cristo ao nos redimir; o apóstolo também ressalta que, tendo em vista não
sermos de nós mesmos, não devemos agir como se o fôssemos, mas sim como sendo
de Deus; e não devemos usar os membros do nosso corpo ou as faculdades da nossa
alma para nós mesmos, mas sim para Deus, fazendo dele o nosso fim. Expressa,
ainda, a maneira como devemos fazer de Deus o nosso fim, ou seja, fazendo da
sua glória o nosso fim. "Agora,
pois, glorificai a Deus no vosso corpo."
Não se
pode supor, com isso, que, embora os cristãos sejam ordenados a fazer da glória
de Deus o seu fim, este pode ser subordinado, subserviente à própria
felicidade, pois, desse modo, ao agir antes e acima de tudo visando ao
benefício próprio, usariam seu corpo, alma e espírito como se pertencessem a
eles mesmos, e não como sendo de Deus, o que é diametralmente oposto ao
objetivo da exortação do apóstolo e dos argumentos que ele apresenta, segundo
os quais devemos nos entregar a Deus, usar a nós mesmos como sendo dele, e não
de nós mesmos, e agir visando ao benefício dele, e não ao nosso. Assim, fica
evidente, de acordo com a nona proposição, que a glória de Deus é o fim último
para o qual ele criou o mundo.
fonte: jonathanedwards.com
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