SEGUNDO os Estatutos da Universidade de Oxford, “Todos os que são
mestres em artes, e dependem da bolsa de qualquer seminário, são arrolados pela
ordem em que colam grau e segundo essa ordem pregam perante a Universidade, ou
pagam três guinéias (cerca de quinze dólares) ao pregador que os substitua”. Em
agosto de 1744 tocou a João Wesley a vez de pregar.
“Ele chegou a Oxford algum tempo antes, e pregou diariamente em
pátios, edifícios públicos e em outros lugares. Uma sexta-feira, pela manha,
tendo já pregado duas vezes em vezes em reuniões privadas, as 5 e às 8, chegou
a Santa Maria às 10 horas. Estavam presentes o vice-chanceler, os regentes, a
maior parte dos reitores, grande número de estudantes e grande multidão de
povo, no meio do qual figuravam homens e mulheres partidários de Wesley.” Estas
notas foram apanhadas por um dos que estavam presentes nessa memorável ocasião.
“Seus cabelos pretos, muito lisos — diz esse escritor— e partidos com perfeita exatidão,
unindo-se à natural serenidade de seu rosto, mostravam ser ele um homem
invulgar. Sua oração foi suave, curta e conforme as regras da Universidade. Seu
texto fora tirado de Atos 4.31. Ele falou mui pausadamente,
com agradável acento”.
O célebre Dr. Kennicott, editor da Bíblia Hebraica, é o escritor
que acabamos de citar. Tinha ele então cerca de 26 anos e iniciava sua
brilhante carreira. Observa esse erudito que admirou algumas passagens do
sermão e achou que a acusação feita por Wesley aos jovens estudantes, vistos
como uma “geração de levianos”,
foras justa, mas censurou o pregador por haver dito que Oxford não
era uma cidade cristã. “Ele
acusou toda a coletividade (e confessou ser parte dela), do pecado de perjúrio,
e isto pela razão de que, ao entrar para o colégio, cada estudante presta
juramento de observar os Estatutos da Universidade, e ninguém os observa em todos
os pontos”. Se essas coisas tivessem sido omitidas e se mais moderadas tivessem
sido as censuras, penso que seu discurso, pelo estilo e pela elocução, teria
agradado de maneira incomum aos outros e também a mim. Ele foi considerado como
homem de grande talento, e isto pelo digno deão da Igreja de Cristo (Dr.
Conybeare); no dia da pregação este generosamente disse: “João Wesley será
sempre considerado como homem de sentimento puro, embora seja um fanático. Todavia,
o vice-chanceler ficou ressentido com o sermão e ouço, dizer que os reitores
dos colégios demonstraram o mesmo ressentimento”. Esta narrativa do sermão de
Wesley é muitíssimo interessante. Parte de um homem que se tornou um dos maiores
eruditos do mundo e mostra-nos, de maneira notável, quão pouco havia,
realmente, de verdadeira espiritualidade, por aquele tempo, na religião da
Universidade. Se Wesley tivesse lisonjeado seu auditório, se tivesse omitido
verdades inaceitáveis; se, como vários pregadores de seu tempo, tivesse deixado
a consciência dos ouvintes em repouso, dormindo no pecado e na negligencia de
seus deveres para com Deus e para com os homens, teria sido aplaudidos
retumbantemente. Como aparece grandioso, nessa ocasião, o cândido pregador do
Evangelho! Os ouvintes ilustres não podem responder a seus argumentos; não
podem negar suas asserções, — mas podem “demonstrar seu ressentimento”! E isso
efetivamente fazem. Wesley nunca mais apareceu diante da Universidade. Quando
de novo lhe tocou a vez de pregar, eles pagaram a multa e pediram substituto, —
algum pregador que pudesse clamar: “Paz, paz, quando não há paz”. Vem a
propósito o contraste entre o procedimento de Wesley e a conduta de um célebre
pregador palaciano do tempo de Luiz XIV, da França. O conhecido monarca era
extremamente sensível a qualquer alusão à morte. Em certa ocasião, quando
pregava perante o rei, o orador teve ensejo de fazer esta observação: “Todo homem
é mortal”. Notando a mudança operada no semblante do rei, e percebendo que
havia tocado no assunto proibido pelo orgulho e licenciosidade do monarca, o
pregador fez uma pausa e emendou o asserto, dizendo: “Quase todos os homens são
mortais”. A louca é absurda tentativa de revogar uma verdade evidente por si
mesma não podia deixar de despertar a atenção do auditório, e o pregador, sem
ter crescido na estima de Luiz, incorreu profundamente no desprezo de todo
ouvinte inteligente. Algumas vezes é questão de tacto a escolha dos termos
próprios com os quais o pregador deva publicamente estigmatizar o pecado. O pregador
não deve nunca chegar a ponto de esquecer que sempre há de “falar a verdade em amor”.
O temor do homem deve ser banido do púlpito, mas o espírito de caridade deve
animar toda censura, seja em particular, seja do púlpito. Devemos condenar, o
pecado; mas, fazendo-o, tenhamos o cuidado de demonstrar o mais profundo desejo
de salvar o pecador.
O leitor nada encontrará neste sermão que tenha sido calculado
para ofender o auditório mais sensível, a não ser que essa ofensa tenha partido
da clara verdade do Evangelho. Se alguns se ofenderam, foi porque a própria
consciência os acusou. Um homem leal não podia fazer menos do que expor as
convicções íntimas; ninguém, a não ser que fosse um bravo, poderia ousar expor
todo o conselho de Deus diante daquele auditório. Falar a verdade em amor é
dever, de que todo ministro fiel deve desobrigar-se, ou sua alma sofrerá reprimenda.
t bom ter consideração e cuidado no trato com o sentimento dos outros; mas não
é digno de uma grande comissão aquele que falte a um dever de consciência por
causa da face dos homens.
Entre e veja o sermão:
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